quarta-feira, julho 29

PESSOA

De qualquer jeito eu vou
visitarei o poeta em verso e prosa
Pessoa e eu.
Com pés descalços
caminharemos pelas ruas de Lisboa,
com o som de duas vozes conversando.
De tanto caminhar, de tanto conversar,
misturamos nosso pó  - poesia ...
mesmo sabendo que já não há mais lugar,
deitamos !

(Cibele Camargo)

sábado, julho 25

MINHA NUDEZ

Alguém perguntou por mim ?
não precisa ter vergona - não mudei em nada
meus gemidos são profanos,
mas estou bem vestida :
colares de pérola , brincos indianos
e anéis de saturno.
Já, meu corpo, é mais modesto
repousa em pétalas de rosa.



(Cibele Camargo)

terça-feira, julho 21

PORÕES

Não preciso falar dos porões do amor
sou mais ousada e real que isso
experimentei dor bem mais cruel.
Desde então minhas emoções explodem
em versos fáceis de seguir

(Cibele Camargo)

terça-feira, julho 14

LISPECTOR E EU - PARTE II

Apaguei a luz ...
e um cansaço nos ouvidos
parecido com um suspiro, surgiu.
Era ela. Voltou como se nunca tivesse partido
parou subitamente, sorriu debochadamente e disse :

- Mais um encontro contigo ? isso é insuportável

Calei-me porque é nela que me inspiro - Ela é o caminho
e ficou claro que mulher alguma ocupou meu lugar.
Seria uma provação e tanto !
sem se impressionar com meu silêncio,
murmurava versos impronunciáveis
- sedutora e espelhada.
Confesso que gostaria de escrever da mesma forma
mas não consigo me livrar da minha dúbia reputação
e de toda essa velharia.
E a sedutora Clarice rebatia ...
- para que a consciência existe ? hei de te recompensar
pela sua malícia... quando terminares avisa !
Eu me sentia fria, exausta
é assustador por onde ela caminha
Mas é assim que acontecem as frases não ditas.
Ela vai me inventar !

(CIBELE CAMARGO)

segunda-feira, julho 6

LISPECTOR E EU - PARTE I

Éramos como emanações uma da outra
e aprendi os versos que me foram ditados.
O mistério de um não encontro !
Poderia, eu, criar como se fosse ela,
bebendo do seu próprio veneno ?
Já estava cansada e suja, mas Clarice pairava ...
generosa e pura !
- Só quero que se desvie um pouco, disse ela
quantos poemas pretende escrever ?
Então ficou claro para mim :
outra mulher ocuparia o meu lugar .
Naquele dia, sequer apareceu
nem ao menos deixou rascunhos
pra que eu pudesse tentar.
Será que seu reaparecimento poderia acontecer ?
Ainda posso ouvi-la sussurrando
por alguém ...
alguém, que misteriosamente decidiu voar !


(CIBELE CAMARGO)